Maio é o mês de conscientização das doenças inflamatórias intestinais e não há oportunidade melhor para darmos luz a essa condição de saúde! Vamos entender tudo sobre DII?
As Doenças Inflamatórias Intestinais, ou DIIs, são condições crônicas que causam inflamação RECORRENTE do trato gastrointestinal e são capazes de comprometer seriamente a qualidade de vida do portador. As duas formas mais conhecidas são a Retocolite Ulcerativa e a Doença de Crohn.

Por que as doenças inflamatórias intestinais acontecem? (Fisiopatologia)
Nosso intestino é habitado por trilhões de microrganismos que formam a chamada microbiota intestinal – um ecossistema que, em pessoas saudáveis, vive em harmonia com o organismo e ajuda em funções essenciais, como a digestão e a defesa imunológica.
Nas pessoas com DII, ocorre uma espécie de “curto-circuito” nesse equilíbrio. O sistema imunológico, que deveria proteger o corpo contra ameaças reais, como vírus e bactérias perigosas, começa a reagir de forma exagerada contra estruturas do próprio intestino ou contra microrganismos inofensivos da microbiota. Essa reação provoca inflamação contínua e lesões na parede intestinal.
Esse processo inflamatório não acontece por acaso. Ele costuma surgir em pessoas com predisposição genética, ou seja, com alterações em genes que regulam a resposta imune e a barreira intestinal. No entanto, ter o gene alterado não significa, por si só, que a pessoa desenvolverá a doença. É preciso que fatores ambientais também estejam envolvidos, como:
- Uso excessivo ou precoce de antibióticos
- Tabagismo (principalmente na Doença de Crohn)
- Estresse crônico
- Dietas muito industrializadas ou com poucos alimentos naturais
- Infecções intestinais prévias
- Disbiose (alterações da flora intestinal)
A combinação desses fatores pode levar o organismo a perder o controle da própria resposta imune, iniciando um processo inflamatório que se torna crônico, ou seja, que não desaparece sozinho.
Tipos de DII
- Retocolite Ulcerativa: afeta exclusivamente o intestino grosso (cólon e reto), de forma contínua, começando no reto e podendo se estender até outras partes do cólon. A inflamação é mais superficial, atingindo apenas a camada mais interna da parede intestinal.
- Doença de Crohn: pode acometer qualquer parte do trato digestivo, da boca ao ânus, mas é mais comum no final do intestino delgado e começo do intestino grosso. A inflamação costuma ocorrer em “pontos salteados” e atinge camadas mais profundas da parede intestinal, o que pode gerar complicações como fístulas, estenoses (estreitamentos) e abscessos.

Sintomas nas doenças inflamatórias intestinais: nem sempre são apenas intestinais
Os sintomas variam de acordo com o tipo e a extensão da doença, mas os mais comuns incluem:
- Diarreia (com ou sem sangue)
- Dores abdominais
- Urgência para evacuar
- Perda de peso sem explicação
- Cansaço intenso
- Febre (mais comum na Doença de Crohn)
Além dos sintomas digestivos, outras partes do corpo também podem ser afetadas, mesmo quando o intestino está relativamente controlado. Isso inclui:
- Articulações: dores ou inchaço
- Olhos: inflamações como uveíte ou episclerite
- Pele: lesões como eritema nodoso ou pioderma gangrenoso
- Fígado: doenças como colangite esclerosante primária
- Ossos: risco aumentado de osteopenia e osteoporose
- Deficiências nutricionais: especialmente ferro, B12, vitamina D, entre outros

Como é feito o diagnóstico das doenças inflamatórias intestinais?
O diagnóstico de uma DII não depende de um único exame isolado, e sim da avaliação conjunta de sintomas, exames laboratoriais, exames de imagem e achados endoscópicos e histológicos (ou seja, de biópsias analisadas ao microscópio). É um processo que exige cuidado, tempo e experiência médica.
É comum que o médico solicite uma combinação de exames, como:
- Exames de sangue e fezes, para investigar anemia, inflamação e excluir infecções
- Colonoscopia com biópsia, fundamental para avaliar o tipo e o padrão da inflamação
- Endoscopia digestiva alta, em alguns casos
- Enterotomografia ou Enterorressonancia: indicados para avaliar o intestino delgado na Doença de Crohn
- Exames de fezes especiais, como a calprotectina fecal, que ajuda a detectar inflamação ativa no intestino
A interpretação desses dados deve ser feita por um gastroenterologista, de preferência com experiência em doenças inflamatórias intestinais. Muitos dos sinais encontrados nos exames também podem estar presentes em outras condições, como infecções intestinais ou síndrome do intestino irritável, por isso é importante evitar conclusões precipitadas
Tratamento: como controlamos a inflamação e melhoramos sua qualidade de vida
O tratamento da Doença Inflamatória Intestinal (DII) é individualizado, ou seja, não existe uma única fórmula que funcione para todos. Ele depende de diversos fatores, como:
- O tipo da DII (Doença de Crohn ou Retocolite Ulcerativa)
- A localização e a extensão da inflamação no trato gastrointestinal
- A gravidade dos sintomas
- A presença de complicações (como fístulas, abscessos, estreitamentos)
- A resposta do paciente aos tratamentos anteriores
- E, claro, as preferências e condições de vida do paciente
O objetivo principal do tratamento é alcançar e manter a remissão, o que significa:
✅ Reduzir e controlar a inflamação
✅ Aliviar os sintomas
✅ Prevenir complicações e hospitalizações
✅ Evitar cirurgias desnecessárias
✅ Promover o crescimento e desenvolvimento normal (em crianças)
✅ Garantir a melhor qualidade de vida possível
Essa remissão pode ser apenas clínica (quando os sintomas desaparecem), mas idealmente deve ser também endoscópica e histológica, ou seja, com a mucosa intestinal cicatrizada e sem sinais de inflamação nas biópsias.
As principais abordagens incluem:
- Aminossalicilatos (mais eficazes na Retocolite Ulcerativa)
- Corticoides (em fases de crise, por tempo limitado)
- Imunossupressores, como azatioprina ou metotrexato
- Terapias biológicas, como os anti-TNF, anti-integrinas e anti-interleucinas
- Novas medicações orais, como os inibidores de JAK
- Cirurgia, quando há complicações como obstruções, fístulas ou perfurações, ou em casos graves sem resposta ao tratamento clínico
Além disso, é importante cuidar da alimentação, do estado nutricional, da saúde óssea e mental, e manter um acompanhamento regular com equipe multidisciplinar.
Outros cuidados essenciais no tratamento
Além dos medicamentos, o tratamento da DII inclui várias abordagens complementares:
🟢 Nutrição adequada:
Pacientes com DII podem desenvolver deficiências de ferro, vitamina B12, vitamina D, cálcio, ácido fólico, entre outros. O acompanhamento com nutricionista ou gastroenterologista ajuda a corrigir essas carências e a manter um bom estado nutricional.
🟢 Saúde óssea:
Pacientes com DII têm risco aumentado de osteopenia e osteoporose, especialmente se usarem corticoides. Avaliações regulares da densidade óssea são importantes.
🟢 Vacinação:
Manter a vacinação em dia (incluindo hepatite B, influenza, pneumococo, HPV) é fundamental, especialmente para quem faz uso de imunossupressores.
🟢 Saúde mental:
A DII impacta o bem-estar emocional. Transtornos como ansiedade e depressão são mais comuns nesses pacientes. O apoio psicológico, terapias e estratégias de enfrentamento podem ajudar significativamente.
🟢 Atividade física e estilo de vida:
Exercícios regulares, redução do estresse, abandono do cigarro e boa qualidade de sono são aliados importantes no controle da inflamação.
Importante…
Se você ou alguém próximo apresenta sintomas persistentes como diarreia, dor abdominal, sangramento nas fezes ou perda de peso, não ignore. Procure um gastroenterologista para avaliação. O diagnóstico precoce e o acompanhamento adequado fazem toda a diferença no controle da doença e na qualidade de vida.
Natália Junkes Milioli – Doctoralia.com.brdranataliamilioligastro.com.br
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