Dra. Natália Junkes Milioli

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    Dra. Natália Junkes Milioli

    12/05/2024

O Supercrescimento Bacteriano no Intestino Delgado (SIBO, do inglês Small Intestinal Bacterial Overgrowth) é uma condição caracterizada por um aumento anormal do número de bactérias nesta região do sistema digestivo. Fisiologicamente, o intestino delgado possui quantidades relativamente baixas de bactérias, com a maioria delas residindo no cólon. No entanto, em casos de SIBO, as bactérias que normalmente habitam o cólon migram para essa parte do intestino, onde se multiplicam excessivamente, resultando em uma população bacteriana desproporcional e potencialmente prejudicial.

Essa proliferação bacteriana pode causar uma série de sintomas, incluindo gases, distensão abdominal, diarreia, constipação, dor abdominal e má absorção de nutrientes. Os fatores de risco para o desenvolvimento de SIBO incluem disfunções no trato gastrointestinal, como a diminuição da motilidade intestinal (que pode ocorrer em condições como doença de Crohn, síndrome do intestino irritável e cirurgias abdominais), alterações na anatomia do trato gastrointestinal, como divertículos ou obstruções, uso prolongado de certos medicamentos, como inibidores da bomba de prótons e antibióticos de amplo espectro, e condições que comprometem o sistema imunológico.

Como funciona a SIBO

A fisiopatologia do SIBO está intimamente ligada à disfunção motora e anormalidades anatômicas do trato gastrointestinal. A motilidade intestinal é responsável pelo movimento do conteúdo digestivo ao longo do intestino, garantindo que as bactérias presentes no cólon não migrem em excesso para o intestino delgado. Quando há uma redução na motilidade intestinal, como na síndrome do intestino irritável ou após cirurgias abdominais, esse mecanismo de defesa fica comprometido, permitindo que as bactérias colonizem o intestino delgado em maior quantidade.

Além disso, condições como diverticulose, estenoses intestinais ou aderências após cirurgias abdominais podem criar bolsas ou áreas de estagnação no intestino, onde as bactérias podem se acumular e proliferar. O uso prolongado de certos medicamentos, como antibióticos de amplo espectro, também pode desequilibrar a flora intestinal, permitindo o crescimento excessivo de determinadas cepas bacterianas.

O resultado final é um desequilíbrio na microbiota intestinal, com aumento do número de bactérias no intestino delgado, levando aos sintomas característicos do SIBO.

SIBO
disbiose
flora bacteriana
distensão abdominal

Diagnóstico e Desafios na Interpretação do Teste Respiratório

O diagnóstico de SIBO pode ser desafiador devido à diversidade de sintomas e à sobreposição com outras condições gastrointestinais. O teste respiratório do hidrogênio expirado é uma ferramenta comumente utilizada para diagnosticar SIBO. Neste teste, o paciente ingere uma solução contendo uma fonte de carboidratos não digeríveis, como lactulose ou glicose, e depois exala o ar através de um dispositivo que mede os níveis de hidrogênio e metano no ar expirado.

No entanto, a interpretação dos resultados do teste respiratório pode ser complexa. Por exemplo, o aumento dos níveis de hidrogênio expirado pode indicar fermentação bacteriana no intestino delgado, mas também pode ser causado por má absorção de carboidratos no intestino grosso. Da mesma forma, a presença de metano no ar expirado pode indicar SIBO, mas também pode ser produzida por bactérias metanogênicas no cólon.

Além disso, outros fatores, como o uso de certos medicamentos, dieta e condições como intolerância à lactose, podem influenciar os resultados do teste respiratório, tornando necessário um cuidadoso exame clínico para interpretar adequadamente os resultados.

Tratamento, Alimentação e Hábitos de Vida no Manejo do SIBO

O tratamento do SIBO geralmente envolve uma abordagem multidisciplinar, que inclui o uso de antibióticos para reduzir o crescimento bacteriano no intestino delgado, além de medidas dietéticas e modificação dos hábitos de vida para prevenir recorrências.

Os antibióticos mais comumente utilizados no tratamento do SIBO incluem rifaximina, metronidazol e ciprofloxacino. Esses medicamentos ajudam a reduzir o número de bactérias no intestino delgado, aliviando assim os sintomas associados ao SIBO.

Além disso, uma dieta pobre em carboidratos fermentáveis, conhecidos como FODMAPs (fermentable oligo-, di-, monosaccharides and polyols), pode ajudar a reduzir os sintomas de SIBO, minimizando a fermentação bacteriana no intestino delgado. Evitar alimentos como grãos, leguminosas, produtos lácteos, certas frutas e vegetais, e adoçantes artificiais pode ser benéfico para pacientes com SIBO.

Outras medidas, como o uso de probióticos para ajudar a restaurar o equilíbrio da flora intestinal, o controle do estresse e a prática regular de atividade física, também podem ser úteis no manejo do SIBO e na prevenção de recorrências. É importante que os pacientes com SIBO trabalhem em estreita colaboração com uma equipe médica especializada, incluindo gastroenterologistas, nutricionistas e outros profissionais de saúde, para desenvolver um plano de tratamento individualizado e abordar eficazmente essa condição complexa.

Natália Junkes Milioli – Doctoralia.com.br

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