Dra. Natália Junkes Milioli

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    Dra. Natália Junkes Milioli

    16/10/2023

Nos últimos anos, o glúten se tornou o centro das atenções nas discussões sobre alimentação. Por que isso aconteceu? Bem, vamos entender melhor essa história.

O glúten, muitas vezes tratado como o “vilão”, trata-se de uma molécula composta por duas proteínas: gliadina e glutenina, que está presente em grãos como trigo, cevada, centeio e seus derivados, desempenhando papel crucial na dieta humana há milhares de anos. Por exemplo:

  • Fonte de Carboidratos: O glúten é uma fonte de carboidratos, e muitos alimentos que o contêm, como pão e massas, são fontes importantes de energia na dieta humana.
  • Sabor e Textura: O glúten desempenha um papel na textura e na elasticidade de produtos de panificação, conferindo maciez e elasticidade à massa. Isso é valorizado em muitas preparações culinárias.
  • Alimentação Variada: O glúten faz parte de muitos alimentos saborosos e tradicionais em muitas culturas ao redor do mundo, como pizza, pão fresco e massas.
  • Nutrientes: A farinha de trigo, que contém glúten, é frequentemente enriquecida com vitaminas e minerais essenciais, como ferro e ácido fólico, o que pode ser benéfico em dietas onde os alimentos ricos em glúten são consumidos regularmente.

Existe algum malefício associado ao consumo do glúten?

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Desde a antiguidade tem-se notado que uma parcela da população não tolera bem este integrante na dieta devido a condições de saúde que impedem sua adequada digestão. Ao longo do tempo, no entanto, foi possível identificar quem são essas pessoas e os motivos pelos quais a exposição ao glúten é capaz de trazer prejuízos à saúde. Neste cenário estamos falando sobre o diagnóstico de doença celíaca!

Apenas cerca de 1% da população global possui o diagnóstico de doença celíaca. Esta condição ocorre quando há o desenvolvimento de uma resposta autoimune ao glúten responsável por desencadear um processo inflamatório na parede do intestino delgado em resposta à sua exposição. Esta inflamação, por sua vez, prejudica a absorção de nutrientes e vitaminas causando danos à saúde a curto e longo prazo. É importante ressaltar que na presença desta condição é mandatória a exclusão completa do glúten da dieta, sem negociações!

Por outro lado, alguns pacientes apresentam apenas uma sensibilidade ao glúten, desenvolvendo sintomas gastrointestinais semelhantes à doença celíaca, mas sem acarretar inflamação ou deficiências nutricionais associadas. A este quadro chamamos intolerância ao glúten não celíaca, também conhecida como sensibilidade ao glúten não celíaca (SGNC). Aqui a exposição e quantidade de glúten ingerida pode ser variável a depender da tolerância e da qualidade do alimento em questão.

Tendo em vista os argumentos acima, proponho agora uma reflexão: Preste atenção na sua dieta! O surgimento de sintomas tem ocorrido apenas com o consumo do glúten como pães de fermentação natural, pão de água e sal, uma macarronada sem molho…; ou após o consumo de alimentos gordurosos, processados ou rico em açucares, como bolos, tortas, hamburgueres, pizza, macarronada com molho abundante? Percebe a diferença? Muitas vezes culpamos o glúten quando na verdade o problema pode estar nestes outros componentes.

Sabendo então que o glúten não é capaz de causar danos à sua saúde fora do contexto da doença celíaca ou alergia ao trigo, existe mesmo a necessidade de exclusão completa da dieta? Aqui está a minha defesa: se você não possui doença celíaca, não há motivo para banir o trigo da sua vida! A exclusão completa do glúten da dieta sem uma necessidade médica pode trazer alguns potenciais malefícios e desafios:

  • Restrição Nutricional: O glúten é encontrado em muitos alimentos ricos em nutrientes, como pães integrais, cereais, massas e outros grãos. Ao eliminar o glúten sem necessidade, você pode estar perdendo fontes importantes de fibras, vitaminas, minerais e proteínas.
  • Restrição Alimentar: A exclusão do glúten pode restringir significativamente suas opções alimentares. Isso pode tornar a dieta menos variada e prazerosa, tornando mais difícil atender a todas as suas necessidades nutricionais.
  • Custo Financeiro: Alimentos sem glúten geralmente são mais caros do que seus equivalentes com glúten. Isso pode aumentar os custos da sua dieta, especialmente se você precisar comprar produtos especiais sem glúten.
  • Dificuldades Sociais: Comer fora de casa, em eventos sociais ou em restaurantes pode se tornar um desafio quando se exclui o glúten sem necessidade. Isso pode afetar negativamente sua vida social e experiências sociais relacionadas à alimentação.
  • Risco de Deficiências Nutricionais: A exclusão completa do glúten pode levar a deficiências nutricionais, especialmente se não for substituído adequadamente por alimentos alternativos ricos em nutrientes. Isso pode afetar sua saúde a longo prazo.
  • Estresse e Preocupação Excessiva: Ficar constantemente preocupado com a presença de glúten em alimentos pode causar estresse e ansiedade relacionados à alimentação. Essa preocupação constante pode afetar negativamente a qualidade de vida.
  • Impacto na Saúde Mental: A exclusão desnecessária de grupos inteiros de alimentos pode ter um impacto negativo na saúde mental, levando a comportamentos alimentares restritivos e até distúrbios alimentares em alguns casos.
  • Compulsão Alimentar: Restringir a dieta sem necessidade pode, paradoxalmente, levar a episódios de compulsão alimentar quando você eventualmente cede à tentação de alimentos com glúten.

Percebe a importância de uma avaliação individualizada e voltada para sua realidade? Cuidado com as informações que consumimos diariamente e mantenha-se atento na hora de extrapolar recomendações genéricas para sua vida. A informação é nossa principal aliada na tomada de decisões, portanto opte sempre por buscar fontes de informações oficiais (deixo abaixo o link para acesso ao posicionamento da Associação Brasileira de Nutrologia – ABRAN).

Em resumo: A dieta deve ser nossa aliada, não um motivo de sofrimento. Lembre-se, é preciso um diagnóstico preciso e um acompanhamento médico e nutricional antes de modificações bruscas na sua dieta. Equilíbrio é a chave para uma vida saudável!

Natália Junkes Milioli – Doctoralia.com.br

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