Conversando com os pacientes, percebi que muitas das dúvidas e preocupações que surgem no consultório são comuns a várias pessoas. Por isso, decidi criar um espaço dedicado à discussão de casos reais, usando essas histórias para explorar temas relevantes e recorrentes. Hoje, vamos falar sobre uma queixa muito frequente: o estufamento. Se você também passa por isso, espero que este relato possa esclarecer suas dúvidas e guiar sua busca por ajuda. Vamos juntos?
Caso de estufamento e inchaço abdominais
Os nomes neste relato são fictícios para proteger a identidade dos pacientes.
Certo dia, recebi em meu consultório a jovem Luísa, de 28 anos, que vinha sofrendo de um desconforto constante na região do estômago. Ela descreveu uma sensação de inchaço e estufamento após as refeições, como se tivesse comido demais, mesmo quando fazia refeições leves. Além disso, Luísa mencionou uma leve náusea e, ocasionalmente, uma dor difusa na parte superior do abdômen. Esses sintomas estavam se tornando cada vez mais frequentes e afetavam seu bem-estar.
Durante a consulta, Luísa relatou que o estufamento parecia ser mais acentuado após o consumo de pães, massas e produtos lácteos, mas que o desconforto surgia independentemente do tipo de alimento que ela ingerisse. Diante desses relatos, decidi iniciar uma investigação para determinar a causa dos sintomas.
Comecei solicitando exames para verificar intolerâncias alimentares, como ao glúten e à lactose. Enquanto aguardávamos os resultados, orientei Luísa a seguir uma dieta de exclusão, retirando temporariamente esses alimentos da alimentação para observar se os sintomas melhoravam.
Os resultados dos testes de intolerância ao glúten e à lactose voltaram negativos. Apesar de uma leve melhora com a dieta de exclusão, Luísa ainda apresentava estufamento e desconforto. Como os sintomas persistiam, optei por uma investigação mais aprofundada. Solicitei exames laboratoriais para descartar outras condições, como infecção por Helicobacter pylori, uma bactéria que pode causar sintomas semelhantes.
Os exames laboratoriais não mostraram nenhuma anormalidade significativa. Diante disso, prosseguimos com uma endoscopia digestiva alta, que revelou uma leve inflamação na mucosa do estômago, mas sem alterações significativas que justificassem os sintomas intensos, além de teste para pesquisa de Helicobacter Pylori negativo.
Com base nesses achados, conclui que Luísa apresentava dispepsia funcional com predomínio de estufamento. A dispepsia funcional é uma condição em que o desconforto digestivo, incluindo o estufamento, não pode ser explicado por anormalidades detectáveis em exames, sendo uma condição bastante comum.
Para o tratamento de Luísa, sugeri uma abordagem combinada. Prescrevi medicamentos para reduzir a acidez gástrica e melhorar o esvaziamento do estômago. Além disso, orientei-a a continuar evitando alimentos ricos em FODMAPs, conhecidos por contribuírem para o estufamento em alguns casos de dispepsia funcional. Também discutimos a importância de manejar o estresse, que pode agravar os sintomas. Recomendamos atividades físicas regulares e técnicas de relaxamento. Nesta abordagem mais ampla se faz necessário o tratamento multidisciplinar e incluimos uma nutricionista para auxiliar no tratamento.
Com o tempo, Luísa relatou uma melhora significativa em seus sintomas. Embora ainda houvesse dias em que o estufamento aparecia, ela conseguiu recuperar sua qualidade de vida, aprendendo a identificar seus gatilhos e lidar melhor com o desconforto.
Esse caso reforça a importância de uma investigação cuidadosa e um tratamento individualizado para dispepsia funcional. Se você está enfrentando sintomas semelhantes, saiba que com as orientações certas, é possível encontrar alívio e melhorar sua qualidade de vida.
Dispepsia funcional: o que é?
A dispepsia funcional é uma condição comum, mas muitas vezes mal compreendida, que causa desconforto na parte superior do abdômen, sem que haja uma causa estrutural ou orgânica evidente. Isso significa que, mesmo após exames como endoscopia e testes laboratoriais, não são encontradas alterações que justifiquem os sintomas, o que pode ser frustrante tanto para os pacientes quanto para os médicos.
Principais Sintomas
Os sintomas da dispepsia funcional variam, mas geralmente incluem:
- Estufamento: Sensação de inchaço na parte superior do abdômen, especialmente após as refeições.
- Dor ou queimação epigástrica: Desconforto ou dor localizada na parte superior do abdômen, que pode ser descrita como uma sensação de queimação.
- Sensação de saciedade precoce: Sentir-se cheio logo após começar a comer, mesmo comendo pequenas porções.
- Náuseas: Algumas pessoas também experimentam uma sensação de enjoo, que pode ocorrer com ou sem vômito.
Causas e Fatores de Risco
A dispepsia funcional não tem uma causa única identificável, o que a torna uma condição multifatorial. Alguns dos fatores que podem contribuir para o desenvolvimento dos sintomas incluem:
- Motilidade gástrica alterada: O estômago pode esvaziar mais lentamente do que o normal, causando sensação de saciedade precoce e estufamento.
- Sensibilidade visceral: Pessoas com dispepsia funcional podem ter uma sensibilidade aumentada aos estímulos normais no trato gastrointestinal, o que amplifica a percepção de dor ou desconforto.
- Estresse e ansiedade: Esses fatores podem exacerbar os sintomas, pois o sistema digestivo é altamente influenciado pelo estado emocional.
- Dieta: Alimentos ricos em gorduras, cafeína, álcool e certos carboidratos fermentáveis (FODMAPs) podem desencadear ou agravar os sintomas em algumas pessoas.
Diagnóstico
O diagnóstico da dispepsia funcional é feito principalmente por exclusão. Isso significa que, após uma avaliação médica detalhada e exames que descartem outras condições, como úlceras, gastrite ou refluxo gastroesofágico, o médico pode concluir que os sintomas são devidos à dispepsia funcional.
Tratamento
Embora não exista uma cura definitiva para a dispepsia funcional, há várias abordagens que podem ajudar a controlar os sintomas:
- Medicação: Antiácidos, inibidores da bomba de prótons (IBPs) e procinéticos (que ajudam na motilidade gástrica) são frequentemente utilizados para aliviar o desconforto.
- Mudanças na dieta: Identificar e evitar alimentos que desencadeiam os sintomas pode ser crucial. Reduzir a ingestão de gorduras, cafeína, álcool e alimentos ricos em FODMAPs pode ajudar.
- Manejo do estresse: Técnicas de relaxamento, como meditação, yoga ou terapia cognitivo-comportamental, podem ser benéficas para reduzir o impacto do estresse nos sintomas.
- Ajustes no estilo de vida: Comer refeições menores e mais frequentes, mastigar bem os alimentos e evitar deitar-se logo após as refeições são práticas que podem ajudar a minimizar os sintomas.
Convivendo com a Dispepsia Funcional
Viver com dispepsia funcional pode ser desafiador, mas com o tratamento adequado e algumas mudanças no estilo de vida, muitas pessoas conseguem gerenciar os sintomas e melhorar sua qualidade de vida. É importante manter um diálogo aberto com o médico para ajustar o tratamento conforme necessário e encontrar a melhor abordagem para cada caso.
Se você tem experimentado sintomas semelhantes aos descritos, considere buscar orientação médica para uma avaliação detalhada. A dispepsia funcional é uma condição comum, mas que pode ser controlada com as estratégias certas.
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