Dra. Natália Junkes Milioli

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    Dra. Natália Junkes Milioli

    21/09/2023

Vamos entender sobre a intolerância à lactose? Você está em um jantar, vai preparado (a) para se divertir e conversar, e de repente, você não sabe exatamente porquê, mas sua barriga começa a emitir sons estranhos, fica inchada e você se sente um balão prestes a explodir! Isso sem contar os 100 metros rasos percorridos até o banheiro mais próximo. Sem dúvidas, motivo de constrangimento entre muitos. Já esteve em situação parecida? Calma, podemos entender melhor o que está acontecendo e evitar, ou ao menos, prever tal situação.

São variados os tipos de intolerância, mas hoje vamos focar aqui na intolerância à lactose. Como ela funciona afinal? Todos estamos sujeitos a tal condição?

Como ocorre a intolerância?

Ocupando a superfície do nosso intestino existem células capazes de produzir determinadas enzimas que permitem a digestão completa dos alimentos e a lactase é uma delas. Esta enzima é capaz de degradar lactose em galactose e glicose, moléculas menores, permitindo, dessa forma, sua absorção direta pela parede intestinal. Quando a lactase encontra-se em quantidades reduzidas ou mesmo insuficientes, não conseguimos a absorção completa da lactose e ai é que começa o problema.

A molécula inteira dentro da luz intestinal não é passível de absorção e passa a funcionar como um imã para água e outros eletrólitos resultando em variações no padrão de evacuação como surgimento de diarreia de caráter explosivo acompanhada de urgência evacuatória. Outra situação causada pela retenção desta molécula no interior do intestino é o aumento de flatulência. Isso porque as bactérias presentes na nossa flora bacteriana alimentam-se da lactose não digerida através de um processo metabólico chamado fermentação, o qual resulta em formação de gases determinando o aparecimento de cólicas, distensão abdominal e sensação de estufamento.

Quais as causas?

A intolerância à lactose pode ser primária ou secundária. A primeira está associada a determinismos genéticos que resultam na redução de produção da enzima ao longo da vida, sendo mais comum o desenvolvimento de sintomas na idade adulta. A segunda é causada pela redução transitória da produção da enzima em reposta à algum insulto primário.

Lembra que comentamos que a enzima é produzida na parede do intestino? Pois bem, se a parede intestinal encontra-se inflamada por algum motivo, o que é esperado que aconteça? Isso mesmo! Nos casos de gastroenterites infecciosas, parasitoses ou inflamações imunomediadas, a parede do intestino perde sua integridade e reduz a produção de enzimas digestivas, especialmente a lactose. Nesse cenário, a intolerância será transitória e os sintomas desaparecem tão logo a parede intestinal se recupere.

Quais os 4 principais sintomas?

  • Dor abdominal: neste caso a dor possui uma correlação temporal com a ingesta de alimentos que contenham lactose iniciando logo após o seu consumo. Sua caracterísca mais comum é apresentar-se tipo cólica, ou seja, em fisgadas.
  • Náuseas: o enjoo ocorre após o consumo e em alguns casos pode vir acompanhado de vômitos.
  • Inchaço abdominal: esse sintoma ocorre após algumas horas das refeição e esta associado ao processo de fermentação que ocorre ao longo do tubo digestivo capaz de aumentar a produção de gases e consequentemente flatulência.
  • Diarreia: é comum haver alterações do padrão de evacuação associados ao consumo de lactose sendo a diarreia o mais comum. Nesses casos a diarreia apresenta um PH ácido, responsável por causar assaduras (comum em crianças), e um caráter explosivo.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico é feito a partir do teste de tolerância oral a lactose ou por testes respiratórios que vão determinar nossa capacidade de digestão da lactose. Outro importante fator considerado para o diagnóstico é a presença de sintomas compatíveis após a ingesta de produtos que contenham lactose, o que pode ser bastante desafiador considerando que não temos o hábito alimentar de fazer escolhas conscientes ao longo do dia.

Pensando nisso, uma boa tática é anotar, ao final do dia, as principais refeições feitas e o surgimento ou não de sintomas. Em outras palavras, fazer um RECORDATÓRIO ALIMENTAR. Isso irá facilitar a individualização, junto ao seu médico, daquilo que não está funcionando bem na sua rotina. Para facilitar a identificação, esteja atento e informado acerca dos principais alimentos que contenham lactose. Informação é tudo! Segue aqui alguns exemplos:

  • Leite (leite de vaca, leite de cabra, etc.)
  • Leite condensado
  • Leite em pó
  • Iogurte (principalmente iogurte natural)
  • Sorvete
  • Queijos frescos, como ricota e queijo cottage
  • Leite de soja (algumas variedades podem conter lactose)
  • Creme de leite
  • Manteiga
  • Sobremesas lácteas, como arroz doce e pudim de leite
  • Molhos e cremes à base de leite, como molho branco
  • Bebidas à base de leite, como milkshakes e smoothies
  • Produtos de panificação como pães, bolos e biscoitos que utilizem leite em sua preparação.

Acho que posso ter intolerância à lactose, e agora?

Agora você deve estar pensando que deve ser horrível viver com intolerância à lactose porque representa evitar todos os derivados do leite, não é? La se foram a pizza, o pão de queijo, os doces… Calma! Atualmente podemos facilitar todo esse processo de digestão através da suplementação da enzima lactase.

Existem diversas indústrias, inclusive no Brasil, produzindo a enzima para que possamos seguir adoçando a vida e nos poupando de constrangimentos, mas cuidado, não vá excluir alimentos da sua dieta sem antes determinarmos o diagnóstico, ok? Os sintomas de intolerância à lactose podem ser iguais ou muito parecidos com àqueles promovidos por outras intolerâncias, como ao glúten. Então, na presença de sintomas semelhantes aos citados aqui, procure um gastroenterologista de sua confiança e faça o diagnóstico mais acertado.

Natália Junkes Milioli – Doctoralia.com.br

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