Dra. Natália Junkes Milioli

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    Dra. Natália Junkes Milioli

    27/09/2023

O surgimento da Helicobacter Pylori na história da medicina data de 1982, quando dois cientistas australianos, Barry Marshal e Robim Warren, através da análise de biópsias estomacais em pacientes com úlcera gástrica, encontraram uma bactéria espiralada de formato helicoidal colonizando o estômago.

Até aquele momento acreditava-se que apenas a alimentação e o estresse eram os causadores de gastrites e úlceras gástricas, mas os cientistas acreditavam que havia algo a mais. Para provar sua teoria, Barry Marshal, em um ato de bravura, ingeriu voluntariamente uma cultura dessas bactérias para avaliar se havia de fato o surgimento de sintomas como o esperado.

Helicobacter Pylori
H pylori

Inegavelmente a infecção aguda fez o pesquisador desenvolver sintomas, corroborando para sua tese, e após o uso de antibióticos alcançou a cura da infecção e o controle sintomático. Desde então, a ciência vem estudando o comportamento desta bactéria e os malefícios causados ao estômago. Agora, fato curioso, o nome Helicobacter é uma menção ao seu formato helicoidal e pylori à sua localização, pois é encontrada em maior densidade em uma porção do estômago chamada piloro.

Como ocorre a transmissão a transmissão pelo Helicobacter Pylori?

Embora seja uma bactéria há muito conhecida pela ciência, o Helicobacter Pylori (H.P) continua a colonizar o estômago de milhares de pessoas em todo o mundo. Atualmente, sabe-se que a infecção por H.P. afeta cerca de 80% da população em algumas regiões. A transmissão dessa bactéria acontece de duas maneiras distintas: a via fecal-oral e a transmissão entre pessoas.

A primeira via se estabelece quando a bactéria é ingerida por meio da exposição a alimentos ou água contaminados. Isso pode ocorrer quando uma pessoa infectada com H.P. elimina a bactéria em suas fezes, gerando a contaminação de alimentos, água ou superfícies.

A segunda forma de transmissão ocorre por meio do contato direto entre pessoas, como beijos ou o compartilhamento de utensílios, copos ou outros objetos.  Dessa forma, entende-se que quanto pior o saneamento básico e os hábitos de higiene pessoais, maior o risco de haver a disseminação da bactéria.

Helicobacter Pylori
H pylori

Quais os principais sintomas causados pelo Helicobacter Pylori?

Estima-se que a maioria das pessoas infectadas permaneça assintomática durante toda a vida e uma porcentagem relativamente pequena desenvolva sintomas. A capacidade de Helicobacter pylori de causar sintomas ou complicações é influenciada por diversos fatores, como a densidade bacteriana, a cepa específica da bactéria, a resposta imunológica do hospedeiro, fatores genéticos e estilo de vida.

Em um grupo de pacientes, a infecção, especialmente na fase aguda, desenvolverá sintomas de intensidade variável podendo inclusive gerar algumas complicações a saúde. Os sintomas e complicações relacionados à infecção por Helicobacter pylori podem incluir:

  • Dispepsia: Também conhecida como indigestão, a dispepsia pode causar desconforto abdominal, inchaço, sensação de plenitude pós alimentar e náuseas em resposta a inflamação do revestimento mucoso interno do estômago. Sem dúvidas é a forma mais comum de apresentação.
  • Úlceras Gástricas e Duodenais: A infecção por Helicobacter pylori é um fator de risco importante para o desenvolvimento de úlceras no estômago e no duodeno. Os sintomas podem incluir dor abdominal, queimação, náusea e perda de apetite.
  • Complicações Gástricas Graves: Embora seja menos comum, a infecção por H.P pode aumentar o risco de desenvolver câncer gástrico e linfoma do tecido linfático associado ao estômago (MALT).
Helicobacter Pylori
H pylori

Diagnóstico

O diagnóstico é feito a partir da identificação da bactéria em si ou de marcadores que determinam sua presença. A biópsia do estômago é um dos melhores métodos, pois além da haver a pesquisa direta da bactéria é possível também avaliar como anda a saúde das células do seu estômago.

Outra forma de diagnóstico é o teste da urease, também bastante preciso na sua identificação, desde que interpretado no intervalo de tempo correto. Como funciona? A Helicobacter Pylori é produtora de uma enzima chamada urease que é capaz de quebrar a molécula de ureia em amônia e dióxido de carbono. A amônia por sua vez, promove um aumento do PH do estômago, ou seja, deixando-o menos ácido. Essa mudança do PH é responsável por desencadear a transformação de cor no frasquinho da amostra em rosa confirmando a presença da bactéria! Genial não é?

Agora volte algumas linhas e veja que descrevo que um dos produtos produzidos a partir da quebra da ureia é o dióxido de carbono. Esta molécula é um gás, e, portanto, é liberado através da respiração, o que permite sua identificação por meio de testes respiratórios, funcionando como uma forma alternativa de realizar o diagnóstico.

Por último e menos importante estão os testes sorológicos. Através da análise de uma amostra de sangue busca-se identificar a presença de anticorpos contra a bactéria. Este é um teste que pode ser pensado em pacientes que nunca realizaram o tratamento para bactéria ou mesmo seu diagnóstico previamente. Isso porque uma vez que tenhamos a infecção iremos produzir os anticorpos de forma definitiva independente da realização de um tratamento. Sendo assim, não servem para controle após tratamento ou diagnóstico de reinfecção.

Tratamento

Agora vamos falar do desafio em torno do tratamento para a erradicação do Helicobacter Pylori. Na época da sua descoberta um tratamento a base de penicilina era suficiente para sua erradicação, mas ao longo do tempo esta bactéria tem assumido mecanismos de resistência contra os antibióticos, o que tem tornado seu tratamento um verdadeiro campo de batalhas.

Atualmente a terapia envolve ao menos dois tipos de antibióticos associados à medicamentos que regulam a acidez gástrica por um período de 14 dias. Ainda assim a chance de cura não é de 100% e por vezes pode ser necessário o retratamento com combinações diferentes de antibióticos. Neste cenário é importante ressaltar a relevância da aderência, ou seja, quanto mais correta for a tomada, sem pular horários, comprimidos ou dias, maior a chance de sucesso!

Eu gostaria de dizer aqui que existem alimentos específicos que auxiliam no combate à bactéria e obtenção da erradicação, pois é uma dúvida e um desejo recorrentes dos pacientes, mas infelizmente não há alimentos ou uma dieta específica com essa propriedade. Mais vale você se concentrar em realizar o tratamento adequadamente e sempre buscar por uma alimentação equilibrada e diversa, sem excessos.

Se você suspeita de uma infecção por Helicobacter pylori ou está sofrendo de sintomas gastrointestinais persistentes, é importante consultar um médico. Um profissional de saúde pode realizar os testes apropriados para diagnosticar a infecção e fornecer o tratamento adequado para o controle de sintomas e promoção da sua saúde gastrointestinal. Até a próxima!

Natália Junkes Milioli – Doctoralia.com.br

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6 respostas

  1. Sou medico e infelizmente a minha experiência revela que o H pylorico sempre retorna após o tratamento mais cedo ou mais tarde.
    Devemos rever se estamos atirando no alvo certo.

    1. Infelizmente com o passar dos anos temos visto uma resistência maior da bactéria às terapias propostas, especialmente a claritromicina, sendo de fato um desafio o controle da erradicação em alguns pacientes. O último consenso fala sobre a possibilidade de teste molecular para acessar o perfil de resistência da bactéria após a falha ao segundo ou terceiro esquemas de tratamento a fim de auxiliar na escolha de um esquema mais acertivo.

  2. Foi muito boa a informação.Porque na verdade estou com esta bactéria. Já fiz vários tratamentos . Já estou com gastrite. Gostaria de saber de um melhor tratamento . Obrigada.

    1. Olá Carmen, obrigada pelo comentário. O tratamento ideal deve sempre levar em consideração aspectos pessoais do paciente como tolerância e alergias aos medicamentos utilizados bem como a escolha da terapia preconizada pelo concenso brasileiro na quantidade e tempo específicos. Além disso, vale chamar atenção para o controle de erradicação da bactéria. O teste não deve ser realizado logo após o tratamento, pois isso aumenta o risco de teste falsamente positivo.O ideal é realizar ao menos 4 semanas após a conclusão do tratamento. Alguns pacientes, mesmo após realização de todas as etapas de forma ideal, não alcançam a erradicação e irão necessitar de acompanhamento. Sugiro buscar um gastroenterologista de sua confiança para revisar todo o tratamento até então realizado. Melhoras querida.

  3. Eu fiz um tratamento com antibióticos por 14 dias, mas ainda sinto dores abdominais e no estômago, fiz uma nova endoscopia hoje e a biópsia só sai o resultado daqui 30 dias, muita demora pelo resultado

    1. Olá Arlete! Agradeço sua participação antes de tudo! A infecção por H.Pylori é realmente uma das principais causas de dores estomacais e quando identificada em exame de endoscopia e biópsia deve ser tratada. Alguns pacientes, realmente não experimentam melhora completa dos sintomas após o tratamento. Isso pode ocorrer ou pela falha do tratamento em erradicar a bactéria ou pela presença de algum outro distúrbio subjacente que esteja contribuindo para os sintomas como, dispepsia funcional, intolerâncias alimentares, entre outros… Não desanime, busque seu médico (a) para que ele (a) possa acompanhar sua evolução e resposta ao tratamento, por vezes o caminho até o entendimento completo dos teus sintomas pode ser mais tortuoso, faz parte da medicina e da complexidade do corpo humano, você está no caminho certo!

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