Desvendando o refluxo

Você já deve ter ouvido falar sobre refluxo gastroesofágico, mas afinal, do que se trata?

Vamos começar elucidando como funciona o mecanismo desta doença. Para facilitar este processo usemos a imaginação para fazer uma analogia utilizando um balão. Imagine que o balão cheio é o seu estômago e a amarração a válvula esofagogástrica, certo? O que irá acontecer se a pressão dentro do balão for alta e a sua amarração fraca? Exatamente! O ar irá escapar aos poucos. Este é o seu estômago, especialmente após as refeições, escapando conteúdo gástrico para o esôfago, ao que chamamos de refluxo. Essa simples associação representa, na verdade, a interação de complexos sistemas que tem como função proporcionar uma boa “amarração” e evitar que o conteúdo gástrico reflua para o esôfago ao longo do dia.

Partindo desse princípio entende-se que sempre que houver refluxo de conteúdo gástrico haverá sintomas e consequências para sua saúde, correto?  Não! O refluxo é uma condição que pode ser normal, especialmente em crianças, e fazer parte do funcionamento variável do organismo a depender de fatores como estresse, hábitos alimentares, prática de atividade física, entre outros. A diferença entre doença do refluxo e o refluxo fisiológico esta na frequência, duração e quantidade de conteúdo refluído durante o dia.

Quais sintomas da Doença do Refluxo?

Os sintomas mais descritos são também denominados sintomas típicos pois estão intimamente relacionados com o diagnóstico da doença do refluxo gastroesofágico, permitindo inclusive o diagnóstico da condição sem a necessidade de exames adicionais. Nesse grupo encontram-se a pirose, também conhecida como queimação ou azia, e a regurgitação, que corresponde àquela sensação de retorno de líquidos ou sólidos. No entanto, a doença do refluxo gastroesofágico pode vir acompanhada de diversos outros sintomas, mais amplos, e que podem variar entre os pacientes, também chamados de sintomas atípicos:

• Dor no peito: A dor no peito pode ser confundida com sintomas cardíacos, pois pode ser intensa e se assemelhar à dor no coração. No entanto, na refluxo, a dor é geralmente causada pela irritação do esôfago devido ao ácido.
• Dificuldade para engolir (disfagia): por vezes o refluxo pode levar à inflamação do esôfago (esofagite) e causar dificuldade ao engolir alimentos sólidos ou líquidos.
• Tosse crônica ou rouquidão: O refluxo ácido para a garganta pode irritar as vias respiratórias, levando a uma tosse crônica, sensação de pigarro ou rouquidão.
• Asma ou piora dos sintomas asmáticos: O refluxo ácido pode agravar os sintomas da asma, levando a crises de asma mais frequentes ou graves.
• Sensação de um nó na garganta: Algumas pessoas relatam sentir uma sensação de nó ou algo preso na garganta, conhecido como globus faríngeo.
• Mau hálito (halitose): O refluxo ácido pode contribuir para o mau hálito devido à exposição do ácido ao sistema respiratório superior.

Preciso de exames para o diagnóstico?

O diagnóstico pode ser feito a partir de uma boa conversa com o médico gastroenterologista ou clínico geral, permitindo inclusive o início rápido do tratamento. Isso porque na doença não complicada, a identificação dos sintomas típicos, na ausência de sinais de alarme, permite o diagnóstico clínico e consequentemente o início das medidas necessárias para o tratamento adequado. Alguns pacientes, no entanto, especialmente àqueles com idade acima de 45 anos, longo tempo de doença não tratada, e que apresentem sintomas atípicos, passarão por uma avaliação extra. Dentre os exames possíveis estão a endoscopia digestiva alta e a Phmetria com impedânciometria.

O que posso fazer para melhorar os sintomas?

Agora uma boa notícia: nem todos os casos necessitam de tratamento farmacológico. Sabemos que o estilo de vida pode contribuir e muito para diversas condições gastroenterológicas e o refluxo não fica de fora. Alinhando ajustes na alimentação e algumas medidas comportamentais podemos sim controlar os sintomas e também evitar os malefícios relacionados à condição.  Seguem aqui algumas dicas comportamentais e alimentares para controlar o refluxo e melhorar sua qualidade de vida:

• Fracione as suas refeições ao longo do dia, evitando longos períodos de jejum e refeições volumosas
• Reduza o consumo de:
  • Cafeína
  • Alimentos gordurosos
  • Frutas cítricas, especialmente a laranja
  • Pimenta e condimentos
  • Tomate ou molho de tomate
  • Menta, hortelã, chimarrão
  • Bebibas alcoólicas e bebidas gasosas
• Pratique atividade física regular. Isso irá fortalecer a válvula esofagogástrica
• Faça um intervalo de ao menos 1 hora entre a última refeição e o horário de dormir
• Opte por uma refeição leve no período da noite
• Prefira a posição de decúbito lateral esquerdo ao deitar

Ufa, chegamos ao fim! Não desanima, se você se identifica com algo dito aqui, saiba que existe muito a fazer para melhorar sua qualidade de vida, portanto procure um gastroenterologista de sua confiança e mãos à obra.

Natália Junkes Milioli – Doctoralia.com.br

dranataliamilioligastro.com.br

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